terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sexualidade e recursão


Eu estava vendo a entrevista do Silas Malafaia pela Marília Gabriela e depois a resposta do biólogo boiola (com o perdão pelo pleonasno*) em relação às alegações do Malafaia em torno de sexualidade e genética e me ocorreu uma observação um tanto quanto inusitada. Existem infinitas possibilidades de identidade de gênero.

Não quero gerar polêmica, a intenção deste texto é puramente matemática. Deixar isso claro logo, porque senão nego cai matando.**

Vamos lá. Cara fala no video que existem dois sexos: a identidade (o gênero que você acha que é) e a orientação (o gênero pelo qual tem atração). Mas na verdade são 3, tem um omitido aí que é o que você de fato tem entre as pernas, vamos chamar esse de anatômico (na verdade tem um 4º que é o cromossômico e talvez um 5º que é o social. Não vem ao caso aqui).

Então, arranjo com repetição de dois elementos 3 vezes, 2³ = 8. Nesse modelo simples existem 8 tipos de sexos.
Vou listar aqui e dar uma denominação.

Homem que acha que é homem e gosta de mulher (cis-hetero-masculino)
Mulher que acha que é mulher e gosta de homem (cis-hetero-feminino)
Homem que acha que é homem e gosta de homem (cis-homo-masculino)
Mulher que acha que é mulher e gosta de mulher (cis-homo-feminino)
Homem que acha que é mulher e gosta de homem (trans-homo-masculino)
Mulher que acha que é homem e gosta de mulher (trans-homo-feminino)
Homem que acha que é mulher e gosta de mulher (trans-hetero-masculino)
Mulher que acha que é homem e gosta de homem (trans-hetero-feminino)

Ufa.

A conclusão aqui é que se for considerar essa distinção entre identidade e orientação, precisamos de mais etiquetas pra essa gente toda. Isso é porque nem entrou bissexualidade na história. (Haja letra na sigla!)
Aliás, por falar em etiquetas, eu tenho impressão que seria mais produtivo usar androfílico e ginofílico ao invés de homo e hetero porque aí desacopla do sexo anatômico. Tipo, divide pelo time em que a pessoa joga.

Mas a parte interessante vem agora.
Vamos voltar pro modelo mais simples, só com identidade e orientação, que agora vamos chamar de afinidade. Mas adotar as seguintes definições:
Afinidade aponta para uma Identidade
Identidade engloba Afinidade.

Pronto. Recursão!!

Caso trivial.
Tipo A: tem afinidade por B => A = ( -> B)
Tipo B: tem afinidade por A => B = ( -> A)

Aplicando a definição de identidade de B em A temos
Tipo A: tem afinidade por quem tem afinidade por A => A -> ( -> A)

Mas se parar aí você vai ver que a expressão não está representando adequadamente a situação. Apesar de fazer todo o sentido para quem adota a filosofia "quero quem me queira".
Considere o tipo C: tem afinidade por C => C = ( -> C)
Descendo um nível na recursão: tem afinidade por quem tem afinidade por C => C -> ( -> C)

Que é a mesma expressão que encontramos no 1o caso.
Portanto, precisamos descer mais um nível lá. Ou seja, primeiro aplicar a definição de A em B e depois aplicar o resultado na definição de A.

A = ( -> B)
B = ( -> A)
---------------
B = ( -> ( -> B))
A = ( -> ( -> ( -> B)))

Tá ficando confuso né?
Vamos ler assim. (É só um exemplo, vamos chegar na generalização logo em seguida.)
Homem
Homem é quem gosta de mulher
Homem é quem gosta de quem curte homem
Homem é quem gosta de quem curte quem tem atração por mulher

Aí você pensa. "Beleza, entendi, mas só tá complicando o óbvio. Praticamente um onanismo mental. Pra quê isso tudo?"

Bom, com esse modelo dá pra representar todo tipo de identidade sexual. Só é criar sua definição. Dei dois exemplos que ilustram o heterossexual (A -> B) e o homossexual (C -> C). Mas se alguma raça alienígena tiver três sexos anatômicos (não me pergunte como), daria pra representar nesse modelo do mesmo jeito com todas as combinações possíveis.

Mas o melhor é que comportamentos mais complexos também podem ser representados.
Por exemplo, tem muito homem que acha "interessante" ver duas mulheres se beijando.
Esses caras são do tipo D.
C = ( -> C)
D = ( -> C)

Obviamente, o tipo D não tem reciprocidade. Se você descer na recursão, o símbolo D não torna a aparecer.
Fica D = ( -> ( -> ( -> ( -> C))))
Mas daria pra criar comportamentos bem complexos com reciprocidade a cada n níveis de recursão.
Algo como X -> Y -> Z -> W -> X


Exercício de casa: representar o poema Quadrilha de Drummond nessa notação.

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história


* A ofensa gratuita é só pela oportunidade de fazer a maior densidade de figuras de linguagem possível. Se explicar perde toooda a graça. (http://xkcd.com/550)

** Será que eu tou superestimando o senso de humor das pessoas? (http://knowyourmemesei.com/memes/almost-politically-correct-redneck)

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